quinta-feira, 26 de março de 2015

Não chorei pela morte de José Wilker

Não chorei pela morte de Wilker)


Não chorei a morte de José Wilker, nem lastimei. Também não fiquei deprimida, mas sim serena, porque ele teve a morte dos abençoados: morreu dormindo. Que prêmio! Claro, por merecimento.

Agora minha cara leitora vai ficar chocada com o que vou escrever, mas hipocrisia não combina comigo. Detesto quem elogia velhice, tecendo mentiras em torno de uma tragédia.
A velhice é o maior castigo que cai sobre a humanidade. É a hora de pagar todos os nossos pecados. É preciso ser calhorda para chamar a velhice de “melhor idade”. Perdemos a fisionomia. Me olho no espelho e penso: “Quem é essa velha que me encara?”
São poucos os que escapam de diabetes, infarto, das terríveis dores reumáticas, da pressão alta, do Alzheimer. E quando a gente começa a sentir que precisa depender dos outros? Esse é meu maior pavor! O horror quando vou ao médico e a enfermeira começa a me chamar com voz mansinha de queridinha, bonitinha – tudo no diminutivo –, já vou dizendo: “Sou velha, mas não sou retardada”. E todos os olhares de impaciência quando você demora a abrir uma bolsa, por exemplo. Ser velho passou a ser motivo de xingamento.
Por tudo isso, não choro mais quando um companheiro vai embora, volta pra casa. Um homem brilhante como José Wilker, ator deslumbrante, culto e sensível, se alguém lhe perguntasse se queria viver mesmo que doente, tenho certeza de que ele escolheria a morte. Voltou para casa, numa viagem em que fechou os olhos e acordou na casa do Pai. Ele merecia!

autora: Xênia

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