sexta-feira, 27 de março de 2015

O desapego nos relacionamentos

O DESAPEGO NOS RELACIONAMENTOS

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Muitos interesses atuam no sentido de deturpar os conceitos que podem levar o homem ao caminho verdadeiro e a sua completa liberdade, e o desapego também não escapou disto.
O desapego nos relacionamentos vem sendo banalizado e divulgado como simples sexo livre.
Desapego não é falta de interesse nem falta de amor, mas apenas independência.
Imagine que você ganhe um carro maravilhoso, confortável e com tudo que poderia imaginar. Certamente terá muito prazer em dirigi-lo. Não há nenhum problema nisto, estamos aqui para ser felizes.
Mas se depois desfazer-se deste carro se tornar um problema, significa que você passou a depender dele. Aquele prazer que antes você não conhecia e não lhe fazia falta agora se tornou essencial para você. Você ficou viciado naquele prazer, apegou-se e depende dele. Esta é a fonte de todo o sofrimento. Você pode usar, mas não precisa ter, deve se manter livre e independente, ou todo prazer vai reverter em sofrimento.
Todo apego gera sofrimento.
No amor e nos relacionamentos pessoais vale a mesma regra. Você só estará pronto para amar verdadeiramente quando estiver bem sozinho, quando se bastar e não depender dos outros. Deve ser muito bom estar com a pessoa que ama, mas também deve ser muito bom estar sem ela. Seu amor não pode ser uma muleta.
“Quem não é um bom impar,
jamais será um bom par.”
Você também precisa entender que tudo que faz é por si mesmo, e não pelos outros, não deve esperar contrapartida.
Se quiseres preparar um café da manhã para a pessoa que ama, e surpreendê-la, faça-o e mergulhe todo seu ser nesta tarefa, absorva o prazer de cada instante, de cada detalhe da preparação. Entregue ao seu amor e curta cada detalhe, cada expressão do seu rosto, absorva aquilo e sinta todo o prazer que você merece. Depois, sinta-se satisfeito, compreenda que foi bom para você e que o outro não precisa retribuir. Não espere que lhe façam o café da manhã no dia seguinte. Se você não quiser repetir mais isso, não repita, mas também não cobre nada do seu amor. Você simplesmente fez o que queria e lhe deu prazer. Isto basta, acabou, não espera nada em troca. Você fez porque quis e foi bom para você ! Só isso ! Acabou !
Este é o amor incondicional, que não espera nada em troca, que não se apega porque respeita a liberdade do outro. Que ama a essência do outro e todas as suas formas de manifestação. Onde suprimir uma destas formas de manifestação é macular este amor, é destruir o que você ama.
Amar verdadeiramente é amar o outro em liberdade e não em uma gaiola.
Os que não entendem estes conceitos vão confundir isto com falta de interesse, porque só sabem viver no apego. Se apegam e se viciam em tudo que gostam e não conseguem entender como alguém pode gostar e não sofrer com uma perda.
Você deve amar ao outro como ser livre, sem posse e sem dependência. A sensação de posse vem da sua dependência, do medo de perder. Você não é livre porque depende e quer tirar a liberdade do outro para não perdê-lo.
Dependência não é amor, quem depende apenas usufrui. É apenas um vampiro. E dois vampiros formam apenas uma simbiose, mas nunca serão dois amantes.
“Dê a quem você ama:
asas para voar,
raízes para voltar
e motivos para ficar.”
Dalai Lama
Não há nada mais belo do que dois seres livres permanecerem juntos ligados pelo amor incondicional. Este é o verdadeiro amor, fiel pela sua natureza, que é a própria liberdade.
através de Prama Shanti

quinta-feira, 26 de março de 2015

Não chorei pela morte de José Wilker

Não chorei pela morte de Wilker)


Não chorei a morte de José Wilker, nem lastimei. Também não fiquei deprimida, mas sim serena, porque ele teve a morte dos abençoados: morreu dormindo. Que prêmio! Claro, por merecimento.

Agora minha cara leitora vai ficar chocada com o que vou escrever, mas hipocrisia não combina comigo. Detesto quem elogia velhice, tecendo mentiras em torno de uma tragédia.
A velhice é o maior castigo que cai sobre a humanidade. É a hora de pagar todos os nossos pecados. É preciso ser calhorda para chamar a velhice de “melhor idade”. Perdemos a fisionomia. Me olho no espelho e penso: “Quem é essa velha que me encara?”
São poucos os que escapam de diabetes, infarto, das terríveis dores reumáticas, da pressão alta, do Alzheimer. E quando a gente começa a sentir que precisa depender dos outros? Esse é meu maior pavor! O horror quando vou ao médico e a enfermeira começa a me chamar com voz mansinha de queridinha, bonitinha – tudo no diminutivo –, já vou dizendo: “Sou velha, mas não sou retardada”. E todos os olhares de impaciência quando você demora a abrir uma bolsa, por exemplo. Ser velho passou a ser motivo de xingamento.
Por tudo isso, não choro mais quando um companheiro vai embora, volta pra casa. Um homem brilhante como José Wilker, ator deslumbrante, culto e sensível, se alguém lhe perguntasse se queria viver mesmo que doente, tenho certeza de que ele escolheria a morte. Voltou para casa, numa viagem em que fechou os olhos e acordou na casa do Pai. Ele merecia!

autora: Xênia