sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Caras, bocas e bolsas

Caras,bocas e bolsas
Claudia Matarazzo

Se se deparasse com a sigla "BB" , meu amigo Ruy Castro,
certamente, pensaria que se trata da atriz Brigitte Bardot, por quem
toda uma geração suspirou na juventude.Ou de Betty Boop,
a curvilínea personagem do cinema e dos quadrinhos.Mas não.
Com "BB" refiro-me a bolsas e bocas,dupla que ajuda a identificar
uma categoria cada vez mais numerosa de mulheres, presentes
em todos os lugares, independentemente da tribo e da conta bancária.
Falo daquelas que não resistem e, já aos 30 anos, começam a
preencher os lábios para ficarem parecidas( como se fosse possível)
com a Angelina Jolie. Não ficam,mas insistem no procedimento e,
aos 40, têm uma fisionomia que mais se assemelha à de uma garoupa
do que à de qualquer diva do cinema.
Elas também ouviram falar em algum lugar que as bolsas grandes estão
na moda. E, como numa afirmação de status (quanto maiores os acessórios,
mais importante seria sua dona), usam sacolões, maxibolsas e mochilas
quase maiores do que elas.
Todas as peças devidamente enfeitadas com ferragens, muito dourado,
chaveiros escandalosos,aplicações, pele com estampa de onça ou de
zebra e celulares no bolsinho de fora.
Como essas mulheres também são ligadas demais em forma física,
frequentam religiosamente academias e clínicas estéticas.
Emagrecem além da conta e ficam com a aparência abatida.
Para tentar compensar, clareiam o cabelo (que deve ser o mais longo
e mais liso possível).
Aí, o resultado é estranhíssimo, para dizer o mínimo. Ficam com aspecto
de meninas envelhecidas,que arrastam suas superbolsas e exibem um
sorrisão artificial pelos shoppings, restaurantes e desfiles de moda.
Sei que isso parece uma crítica gratuita.Não é.
Entristece-me ver que cada vez menos as pessoas adotam um estilo
individual para se expressar, apresentar e ser.Aos poucos, o
consumismo e a comunicação em massa exterminam qualquer
manifestação de originalidade.Um exemplo?
Quase não vemos mais os cabelos cacheados de tantas brasileiras.
Hoje, se não passar chapinha,fizer alisamento “inteligente” ou uma
escova “progressiva” (ou de chocolate ou que estiver na moda),
a mulher sente-se completamente inadequada.
O mesmo acontece com a cor dos cabelos.Os castanhos profundos
e brilhantes e os negros encaracolados não são mais desejáveis.
Melhor submetê-los a uma penosa descoloração, deixá-los em tom
caju ou cor de "burro quando foge".E sem vida,mas sempre lisos.
Ok, reconheço que estou ranzinza. O que me levou a essa divagação
foi o fato de, recentemente, na sala de espera do cinema de um
shopping, perceber que, num sofá com cerca de 15 lugares,
acomodavam-se apenas quatro dessas senhoras loiras e suas megabolsas.
O restante do público esperava em pé, sem coragem de pedir licença.
Vai que uma delas abrisse aquele bocão de garoupa e resolvesse dar uma mordida?