domingo, 1 de março de 2009

BBB=TV para desocupados e nivelados aos particpantes

O artigo é uma reflexão sobre a pobre condição humana da qual Sheakspeare já mostrava em seus escritos e o Miguel Reale atualiza. Tempos modernos agora significam não só a incompetência, a roubalheira, mas também a negação da ética, de dignidade e dos bons hábitos ( e não estou falando de escovar os dentes após as refeições....) A Globo e outros iguais estão ensinando com sucesso, o ser humano a vender sua porção divina em troca de dinheiro!
Isso me dá um medo!!!!

Programas como Big Brother indicam a completa perda do pudor, ausência
de noção do que cabe permanecer entre quatro paredes. Desfazer-se a
diferença entre o que deve ser exibido e o que deve ser ocultado.
Assim, expõe-se ao grande público a realidade íntima das pessoas por
meios virtuais, com absoluto desvelamento das zonas de exclusividade.
A privacidade passa a ser vivida no espaço público.

O Big Brother Brasil, a Baixaria Brega do Brasil, faz de todos os
telespectadores voyeurs de cenas protagonizadas na realidade de uma
casa ocupada por pessoas que expõem publicamente suas zonas de vida
mais íntima, em busca de dinheiro e sucesso. Tentei acompanhar o
programa. Suportei apenas dez minutos: o suficiente para notar que
estes violadores da própria privacidade falam em péssimo português
obviedades com pretenso ar pascaliano, com jeito ansioso de serem
engraçadamente profundos.
Mas o público concede elevadas audiências de 35 pontos e aciona,
mediante pagamento da ligação, 18 milhões de telefonemas para
participar do chamado "paredão", quando um dos protagonistas há de ser
eliminado. Por sites da internet se pode saber do dia-a-dia desse
reino do despudor e do mau gosto. As moças ensinam a dança do bumbum
para cima. As festas abrem espaço para a sacanagem geral. Uma das
moças no baile funk bebe sem parar. Embriagada, levanta a blusa, a
mostrar os seios. Depois, no banheiro, se põe a fazer depilação. Uma
das participantes acorda com sangue nos lençóis, a revelar ter tido
menstruação durante a noite. Outra convivente resiste a uma conquista,
mas depois de assediada cede ao cerco com cinematográfico beijo no
insistente conquistador que em seguida ridiculamente chora por ter
traído a namorada à vista de todo o Brasil. A moça assediada, no
entanto, diz que o beijo superou as expectativas. É possível conjunto
mais significativo de vulgaridade chocante?
Instala-se o império do mau gosto. O programa gera a perda do respeito
de si mesmo por parte dos protagonistas, prometendo-lhes sucesso ao
custo da violação consentida da intimidade. Mas o pior: estimula o
telespectador a se divertir com a baixeza e a intimidade alheia. O Big
Brother explora os maus instintos ao promover o exemplo de bebedeiras,
de erotismo tosco e ilimitado, de burrice continuada, num festival de
elevada deselegância.
O gosto do mal e mau gosto são igualmente sinais dos tempos,
caracterizados pela decomposição dos valores da pessoa humana,
portadora de dignidade só realizável de fixados limites
intransponíveis de respeito a si própria e ao próximo, de preservação
da privacidade e de vivência da solidariedade na comunhão social. O
grande desafio de hoje é de ordem ética: construir uma vida em que o
outro não valha apenas por satisfazer necessidades sensíveis.
Proletários do espírito, uni-vos, para se libertarem dos grilhões da
mundialização, que plastifica as consciências.”

Miguel Reale Júnior, advogado, professor titular da Faculdade de
Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras.
O Estado de São Paulo, 02 de fevereiro de 2008.

(artigo me foi enviado pela minha Super Prima Zulima, o que prova que na minha família há maravilhosos seres bem pensantes. Obrigada, prima!)

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