A idade do
pijama
A velhice
tem lá suas benesses: ir ao Banco no horário de pico e bem na sua vez, chegar
para ser atendido na sua frente, merecendo aquele seu sorriso mais amarelo;
servir-se antes de todos e pegar o bife maior e mais suculento da travessa, e
ainda dizer que nem está com fome; reclamar em alto e bom tom de absolutamente
tudo e ninguém se incomodar; sentar-se na cadeira mais confortável da casa e
assistir a mulher da Iogurteira Top Therm num volume audível num raio de
150mts…
Enfim, eu
poderia ficar aqui listando inúmeros privilégios da 3ª idade. Veja bem, não
estou criticando, isso é um direito inegável, mesmo porque ainda chego lá!
Contudo, o
maior benefício da velhice é ficar invisível. Virar paisagem, cadeira, muro. E
isso dá uma liberdade incrível. Neste inverno conheci uma velhinha que já não
tira mais o pijama para sair de casa. Veste um roupão por cima e sai. Eu a
encontrei assim, roupão, pijamas e chinelo de pano na padaria. Três vezes.
Na terceira,
resolvi segui-la.
Pensei: ela
está certa, e dentro de alguns anos eu também vou fazer isso. Eu também quero
poder acordar e ir para a padaria, do jeito que estiver. Pensei ainda: ela deve
morar aqui na rua mesmo, que nem eu. Por que ela pode ir de pijama para a
padaria e eu não? Daí que me veio: porque ela já se tornou invisível.
Segui a
Senhorinha para ver onde morava. Não era na minha rua, nem na rua de baixo, nem
na rua seguinte. A velha mora a mais de quatro quarteirões daqui e mesmo assim,
pijamas! Pensei: bem, é inverno, tudo bem.
Então, na
semana passada, aquele calor de rachar, encontrei a velha de camisola
transparente esvoaçante na padaria! Que velhice que nada. Uma sem-vergonha,
isso sim!
autoria desconhecida
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