“A campanha do colesterol é o maior escândalo médico do
nosso tempo”
Entrevista a
Uffe Ranskov, investigador dinamarquês e fundador da Liga Internacional dos
Céticos do Colesterol que defende que o colesterol alto não é causa mas apenas
um sintoma das doenças cardiovasculares.
Como começou o seu interesse no colesterol?
Quando a campanha anti-colesterol começou na Suécia, em
1989, fiquei surpreendido porque nunca tinha visto indicações na literatura
médica que mostrassem que o colesterol elevado ou as gorduras saturadas fossem
prejudiciais. Como sabia pouco do assunto comecei a ler de forma sistemática e
rapidamente percebi que o rei ia nu.
Parece haver uma guerra de estudos nesta matéria...
Quase todas as pesquisas nesta área são pagas pelas
farmacêuticas e pela indústria das margarinas. É também um facto triste que
muitos investigadores que mostraram que o colesterol elevado não é mau, não o
percebam eles próprios. Por exemplo, dois grupos de investigação
norte-americanos mostraram recentemente que o colesterol de doentes que deram
entrada no hospital com ataque cardíaco estava abaixo do normal. Concluíram que
era preciso baixar o colesterol ainda mais. Um dos grupos fez isso mesmo. Três
anos depois tinha morrido o dobro dos pacientes a quem tinham baixado o
colesterol, comparativamente aqueles em que o colesterol foi deixado na mesma.
Se o colesterol não tem influência na doença coronária como se
explica que haja tantos estudos a mostrar efeitos positivos das estatinas em
pessoas com historial de doenças coronárias?
A razão prende-se com o facto das estatinas terem outros
efeitos, anti inflamatórios, além de baixarem o colesterol. O seu pequeno
benefício só foi demonstrado em pessoas jovens e homens de meia- idade que já
tiveram um ataque cardíaco. Nenhum ensaio de estatinas foi capaz de prolongar a
vida às mulheres ou pessoas saudáveis cujo único ‘problema’ é terem o
colesterol alto. E há mais de 20 estudos que demonstram que pessoas mais velhas
com colesterol vivem mais tempo.
- Há quem não desvalorize completamente o papel do colesterol,
nomeadamente o LDL, mas enfatize a importância do tamanho das partículas.
O investigador norte-americano Ronald Krauss descobriu que
o LDL existe em vários tamanhos e que um número elevado de partículas pequenas
e com maior densidade está associado a um maior risco de ataque cardíaco,
enquanto que um numero alto de partículas de LDL grandes está associado a um
risco menor. Também demonstraram que ao comer gordura saturada o número de
partículas pequenas no sangue descia e que o número das grandes subia. Isto não
significa que as partículas pequenas sejam a causa dos ataques cardíacos. Haver
uma relação não implica que seja de causa efeito. O que estes estudos demonstraram
foi que comer gorduras saturadas não causa doenças coronárias. De qualquer
forma, uma análise do colesterol diz pouco. O nível de colesterol depende de
muitas coisas. O stresse pode aumentar o nível de colesterol em 30% a 40% em
meia hora.
Diz ainda que as gorduras saturadas não são um problema mas sim a
comida processada, com gorduras hidrogenadas, e o açúcar...
Sim, o triste é que até os autores do mais recente
relatório da OMS/FAO admitiram que a gordura saturada é inocente e apesar disso
continuam com as recomendações de dietas com baixos teor de gordura e altos
teores de hidratos de carbono. O relatório diz ‘As provas disponíveis de
ensaios controlados não permitem fazer um juízo sobre efeitos substantivos da
gordura na dieta no risco de doença cardiovascular’. Na Suécia, milhares de
diabéticos obesos puderam deixar a medicação para a diabetes evitando os
hidratos de carbono e comendo alimentos ricos em gordura saturada.
O que recomenda às pessoas relativamente à toma de estatinas?
Não usem estatinas! O seu benefício é mínimo e o risco de
efeitos adversos é muito mais alto do que o que as farmacêuticas dizem. Vários
investigadores independentes mostraram que há problemas musculares em25 a 50%
das pessoas, especialmente nos mais velhos. Pelo menos 4% ficam com diabetes e
parece haver também ligação a perdas de memória ou Alzheimer. Os problemas de
fígado também são um risco. A campanha do colesterol é simplesmente o maior
escândalo médico do nosso tempo